sexta-feira, 24 de junho de 2011

A lógica muito própria da indústria publicitária de alimentos


A ingestão demasiada de calorias é um dos principais causadores da obesidade. A doença é considerada uma epidemia global.
A professora Roseli Sichieri, do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, fez um estudo: entre 7% e 9% dos custos hospitalares estão ligados ao sobrepeso e à obesidade. São somas astronômicas para um país com milhões de obesos, como é o caso do Brasil.
Ser obeso custa mais caro. Também é mais difícil conseguir emprego e a qualidade de vida é mais precária.
Nos Estados Unidos, a obesidade é um fator de risco tão ou mais grave que o tabagismo, com 60% da população acima do peso. O país iniciou guerra contra a obesidade.  
O Brasil importou com grande competência o estilo trash food. Vá à praça de alimentação de um shopping e procure a maior fila: McDonald's e Burger King.
É a chamada liberdade de escolha: optar pelo lixo quando o saudável está ao lado.
Colesterol extra
Além dessa suposta liberdade de escolha, também é importante considerar a devastadora máquina publicitária dos alimentos ricos em sódio e gordura.
As agências de publicidade, em geral, tem uma lógica muito delas. Quando alguém reclama, se colocam na condição de vítimas. “Não queremos ser censuradas. Não obrigamos ninguém a comprar. As pessoas tem a liberdade de escolher”.
E toma tranqueira goela abaixo do consumidor. E toma campanha, e toma brinde, e toma criança fazendo comercial de televisão.
Ora, a premiadíssima e milionária indústria publicitária brasileira tem sua própria moral, além de dezenas de leões em Cannes. Ela se basta em si mesma!
E temos que engolir anúncios como esse, do Burger King.
Façamos algumas associações.
Peça sem: salada e cebola.
Peça com: queijo extra, carne extra, bacon, maionese.
O que a campanha diz é o seguinte:
Peça sem salada e sem cebola, pois você tem o direito de recusar os únicos dois alimentos comprovadamente saudáveis dessa mistura.
Peça com carne extra, com queijo extra, com bacon e com maionese. Você tem o direito de comer bombas de sódio e de gordura. Você tem o direito de sentir esse prazer.
Ruahhrrrrr. Mais um leão faturado.
E mais um gordo feliz. 
Ou não.

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Espaço Aberto debate a cadeia produtiva do Aço


Nesta quinta 23, converso com a jornalista Miriam Leitão sobre a pesquisa O Aço da Devastação, que apresenta os problemas ambientais e trabalhistas na cadeia produtiva do Aço.
O Espaço Aberto Miriam Leitão vai ao ar pela Globonews hoje às 21hs25min. Tem reprise sexta 8hs30min e 16hs30min.
O lançamento da pesquisa aconteceu quarta 22 em São Paulo. Participaram diversas organizações da sociedade civil, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho e CUT.
O Observatório Social, as entidades que integram o Comitê de Monitoramento do Pacto do Trabalho Escravo, conjuntamente com outras organizações, iniciam agora uma série de iniciativas para interromper os processos predatórios nas siderúrgicas instaladas no polo de Carajás.

Atualizado na sexta 24:
Clique aqui para assistir o Espaço Aberto Miriam Leitão.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entrevista à Rádio CBN

Conversei hoje cedo com Milton Young, pela CBN, sobre o lançamento da pesquisa O Aço da Devastação, que acontece quarta 22 em São Paulo.

Clique aqui para ouvir.
Clique aqui para saber os detalhes do lançamento.

domingo, 19 de junho de 2011

Governo e empresas se unem para devastar a Amazônia


Principais trechos da entrevista que concedi ao jornalista Jair Stangler, do Estadão. Para acessar a integra do material clique aqui.  Não esqueça: quarta feira 22, lançamento da pesquisa O Aço da Devastação.

Corrupção no governo do Pará: A gente tem o trabalho escravo, devastação ilegal e corrupção. Corrupção ativa e passiva. E aí você tem pequenas carvoarias que estão sendo usadas como fachadas para esquentar carvão, e você tem uma quadrilha que opera nos porões da secretária de Meio Ambiente do Estado do Pará. E essa quadrilha foi muito fortalecida ao longo dos últimos anos. No governo do PT, ela cresceu muito no governo da Ana Júlia. E ela permanece no governo hoje do PSDB. Ela transcende agremiações políticas. Ela sobrevive a partidos, a governos, a gestões.
Siderúrgicas e crimes ambientais: Devastação ilegal, roubo de madeira de terra indígena, contaminação do meio ambiente, e aí você tem grilagem de terra e você tem assassinatos. Quer dizer, as pessoas estão sendo assassinadas para que esse esquema continue de pé. O Zé Cláudio, a mulher dele, toda essa turma que foi assassinada lá nas últimas semanas, eles morreram porque denunciavam a devastação ambiental para produzir carvão e para produzir madeira.
Assassinatos: Elas não sujam a mão de sangue. Elas financiam. As siderúrgicas têm responsabilidade diretas por esses assassinatos. Eu não estou dizendo que eles não têm responsabilidade. Eles são diretamente responsáveis por esses crimes na medida em que financiam as empresas que desmatam e usam trabalho escravo. Isso precisa ficar bem claro. Eu não estou dizendo que eles mandam matar. Eles só financiam quem patrocina os assassinatos.
Vale S/A: A Vale tem uma história de responsabilidade social e empresarial que deve ser levada em conta. Ela tem um poder enorme de influência sobre o governo, sobre outras empresas e tal. A Vale assinou em 2008 um acordo com o Ministério Público que não iria mais fornecer minério de ferro para as empresas ligadas ao desmatamento. Com essa pesquisa eu conversei com a Vale e a Vale me disse que vai apurar. Eu acho bacana a Vale apurar e ela se colocar diante disso. Ou seja, como ela vê essa questão, e como é que ela vai se posicionar depois do lançamento da pesquisa. Porque ela disse “a gente não tem dados suficientes, a pesquisa ainda não foi lançada, mas de imediato eu posso garantir que nós vamos apurar”. É o que eu espero, que a Vale tome a postura correta, pelo tamanho que ela tem, pela influência nacional e internacional.
Estado financiador: O MPF está acusando o BNDES e o BB de emprestarem dinheiro para as empresas que estão devastando a floresta, usando trabalho escravo na cadeia produtiva. É um exemplo do Estado cúmplice do processo predatório. No meu entender não pode. O Estado e as empresas públicas, e os bancos públicos eles não podem financiar a devastação ambiental, é absolutamente inaceitável você ter o BB e o BNDES financiando trabalho escravo. Não pode acontecer, de forma alguma. Precisa mudar, precisa ficar mais atento. E precisa aprovar a PEC do trabalho escravo.
Colarinho branco: É muito poder, é muita grana. Eles controlam, eles dominam a região. Eles mandam e desmandam. E aí você tem desde a influência econômica dos altos escalões, a compra, a corrupção e na linha de frente, na linha mais baixa, você tem a pistolagem. Ou seja, ou você se enquadra ou nós vamos passar fogo mesmo. É tudo o mesmo esquema, é tudo o mesmo negócio. Seja a alta corrupção, o crime do colarinho branco, ou a pistolagem, é tudo para beneficiar os esquemas de devastação ambiental.

sábado, 18 de junho de 2011

MPF instaura ação contra siderúrgicas do polo de Carajás


O procurador da República Tiago Rabelo, do MPF de Marabá, disse à revista Época - que chega as bancas nesse final de semana, que vai instaurar ação civil pública contras as siderúrgicas citadas na pesquisa O Aço da Devastação, que será lançada em São Paulo dia 22.

Clique aqui para saber mais detalhes.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Trabalho escravo e devastação ambiental na produção de aço


Os anos passam e as grandes siderúrgicas seguem patrocinando a destruição do meio ambiente. Continuam fritando a Amazônia para produzir aço. Sem pudores, usam o carvão do desmatamento e do trabalho escravo.
A Vale S/A, que fornece minério de ferro para as siderúrgicas da devastação, havia prometido, em 2008, que não faria mais parte da cadeia produtiva da destruição ambiental. Agora, muda a versão e diz: não temos poder de polícia e não temos informações oficiais sobre problema na cadeia produtiva das siderúrgicas do polo de Carajás.
Monitorar cadeia produtiva não é assunto de polícia, mas de responsabilidade social empresarial.
A produção de ferro gusa no polo de Carajás é insustentável. Alimenta a devastação, o trabalho escravo, a corrupção e a pistolagem.
Dia 22, vamos lançar outra pesquisa sobre o tema. A diferença é que, agora, pegamos as empresas com a mão dentro da cumbuca: cruzamos os dados reais de produção de ferro gusa com o total de carvão produzido legalmente. Alçamos um assustador índice de uso do carvão ilegal.
Assista aqui o vídeo de mobilização: http://www.vimeo.com/24797458

domingo, 5 de junho de 2011

Síndrome incurável afeta jornalistas e se espalha pelas redações



Faz muito tempo que eu aviso meus amigos e amigas jornalistas sobre os riscos de contrair a perigosa e incurável Síndrome do Ar Condicionado.
Quando isso acontece, o jornalista desenvolve uma série de patologias. A primeira delas é a percepção de que pode resolver tudo por telefone e e-mail e que não precisa sair da redação.
Veja um exemplo, publicado hoje no G1:
... Duas vítimas de sequestro-relâmpago que estavam sendo mantidas reféns dentro do porta-malas de um carro foram libertadas pela Polícia Militar de São Paulo após perseguição aos criminosos durante a madrugada deste domingo (5) na Zona Leste
... Um dos sequestradores foi morto...
...  Por telefone, o G1 conversou com uma das duas vítimas e com os policiais militares que participaram da ação. “Ouvimos os sequestradores dizerem que iriam nos matar"...... etc etc etc
Ir a campo, sair pra rua, investigar, perguntar, checar, rechecar. Isso tudo acaba quando a Síndrome do Ar Condicionado se instala na corrente sanguínea do jornalista.
Era uma doença rara, mas tornou-se comum depois que os jornalistas passaram a habitar os lugares mais confinados e insalubres do prédio. Os espaços mais arejados tiveram que ser desocupados para a entrada dos publicitários, que seguem o caminho do dinheiro e são muito mais pragmáticos que os jornalistas.
Antes, nas redações, os jornalistas ocupavam lugares mais arejados e tinham infraestrutura para sair pra rua. Mas isso acabou. Hoje, ficam sem tomar sol, respiram ares já respirados e, mais cedo ou mais tarde, contraem a Síndrome do Ar Condicionado
Outro sintoma da doença é achar que as coisas são assim mesmo e que assim devem ser. E se acomodam em frente de uma suposta janela para o mundo: um computador conectado à rede. É nesse momento que a doença se torna praticamente incurável.
Veja a lista de sintomas pela ordem que geralmente aparecem:
1. Achar que sempre dá pra resolver uma matéria por telefone;
2. Acreditar no que escuta, por telefone, de policiais;
3. Achar que é normal passar o dia pegando declarações e escrevendo matérias com a ajuda do Google;
4. Achar que o Google tem respostas para todas as perguntas;
5. Acreditar nas fórmulas e macetinhos que aprendeu numa caríssima palestra da Abraji;
6. Se autoproclamar jornalista investigativo;
7. Morte.
Se você apresentar um ou dois sintomas acima, procure imediatamente respirar ar fresco e tomar um pouco de chuva. É o melhor remédio para tratar a doença.
Só não tome chuva se você apresentar o sétimo sintoma, pois poderá pegar um resfriado.
E não esqueça: todo jornalismo é investigativo. Se não é investigativo não é jornalismo 

sábado, 28 de maio de 2011

A liberdade é uma delícia


A máquina repressora do “estado de direito” se manteve quieta no sábado 28. A Marcha da Liberdade seguiu seu caminho sem problemas, do vão central do MASP até a Praça da República, em São Paulo. A manifestação tinha sido novamente proibida por um desembargador, que alegava apologia ao uso de drogas.
Anteriormente, se chamava Marcha da Maconha. É um movimento que propõe mudar uma lei: a que criminaliza o uso da maconha. Os simpatizantes marchariam pelo direito democrático que dá ao cidadão a liberdade de reivindicar pacificamente a mudança de uma lei.
O Poder Judiciário viu nisso a semente da desordem e mandou a polícia descer o sarrafo, caso alguém saísse em caminhada pela causa. Foi o que aconteceu no sábado 21. Manifestantes e jornalistas apanharam.  No meio da semana, o governador Geraldo Alckmin reconheceu o abuso da tropa.
Durante a semana, a manifestação mudou de nome e passou a se chamar Marcha da Liberdade. No sábado 28, Alckmin mandou a PM acompanhar e ajudar a organizar o trânsito. Só isso.
Deu tudo certo. Como o evento continuava proibido pela justiça, deu-se um jeitinho e a marcha subiu a Paulista e desceu a Consolação.

Paz e Amor

O aparato repressor do Brasil democrático foi criado durante a ditadura. Pouco evoluiu de lá pra cá. Virou um monstro de mil cabeças: caro, corrupto, incompetente e antiquado.
Muitos policiais se esforçam para mudar a imagem e a prática na corporação, mas ela continua trabalhando para fazer o que foi programada para fazer quando nasceu. É uma regra interna, como um código de DNA.
Como não dá pra reinicializar o sistema, passar a régua e começar de novo, vão ajustando aos poucos, bem aos poucos.
O Poder Judiciário e o aparato repressor trabalham em sincronia, se ajustam. Um é a calça e o outro é a camisa do “sistema”. Os dois foram feitos para proteger quem manda e colocar na linha quem não obedece.
Por isso a marcha foi reprimida. Pelo seu potencial transformador, pela sua regra interna revolucionária. O poder constituído tem pavor dos movimentos que vem de baixo, que amergem em meio a mesmice.
Esse movimento começou com meia dúzia de estudantes distribuindo panfletos. Tomou proporção nacional ao longo do tempo.
Para a felicidade geral, no sábado 21 o poder judiciário e seus comandados haviam dado uma enorme contribuição para o sucesso da causa. A Justiça mandou reprimir quem só queria saber de paz e amor. E a marcha ganhou o noticiário, visibilidade e legitimidade social. Tudo o que o aparato de controle social não queria.
Paz e amor é demais pra eles, sempre foi, desde a revolução francesa, desde a descoberta da roda.
Paz e amor derruba estruturas, cria novas referências, movimenta a inteligência coletiva, cria a emergência coletiva.
Essa marcha vai longe.

terça-feira, 1 de março de 2011

O valor da Natureza - parte 1


Não há romantismo ou ilusão entre os profissionais que decidem o preço dos produtos vendidos nos magazines e redes de supermercados. São pessoas pautadas pela concorrência, por metas, por planilhas cada vez mais rigorosas.
A primeira coisa que um profissional dessa área precisa saber é a diferença entre fantasia e realidade.
A realidade não tem moral e não tem ética. Ela é apenas a realidade. Nós é que a esticamos de um lado para o outro. Fazemos de tudo para moldá-la ao que acreditamos ser o melhor para nós, para nosso grupo ou para o nosso ideal.
A realidade caminha. O ideal voa. Entre um e outro está tudo o que nos faz humanos e que nos diferencia dos animais, como a Cultura por exemplo.
A turma do marketing navega bem entre os dois universos, o da fantasia e o da realidade. O presidente da Nike já disse, tempos atrás, que o negócio deles não é fabricar tênis, mas vender conceitos.
O trabalho de fabricar tênis fica para os chineses e vietnamitas. Enclausurados em cubículos mal ventilados, aonde não chega nem ar puro nem direitos humanos, costuram pedaços de couro que depois ganharão o conceito, o valor mais precioso na sociedade do hiperconsumo em que vivemos.
O pessoal do marketing sabe disso. O consumidor paga uma mixaria pelo tênis e uma fortuna pelo conceito. E fica feliz por isso.
No outro extremo, na seara que batizamos de sustentabilidade, as coisas não são assim tão simples. Por enquanto, o consumidor não quer pagar pelos produtos que foram fabricados de forma sustentável, ou seja, fabricados sem agredir a natureza, por exemplo. Quem diz isso são os próprios responsáveis pela fixação de preços nas grandes lojas de varejo.
 O consumidor está disposto a pagar por beleza, virilidade, conquista, corpo delineado, poder, felicidade material, fama. Mas não topa pagar o custo da natureza. Nem um centavo a mais.
O desafio é como aproximar os dois, a cultura da sustentabilidade e a prática diária do consumidor. A autodeterminação dá a ele o direito de escolha, e ele ainda não escolheu pagar mais pelo produto sustentável.
A cultura da sustentabilidade come poeira na corrida pelos corações e mentes do consumidor. Principalmente porque não dispõe dos bilhões de dólares despejados pela indústria da publicidade, as fábricas de conceitos que agrega valor ao tênis, ao carro, a lata de cerveja.
O ativismo ambiental e a responsabilidade social empresarial (a verdadeira, não o marketing social) tentam mudar isso, ainda sem muito sucesso.
Voltarei ao assunto.

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