quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A maquiagem para crianças e a mercantilização da infância


Quando postei a notícia de que a Walmart lançaria maquiagem anti-envelhecimento para crianças, o tema já era comentado em sites norte-americanos. No Brasil, o caso foi antecipado pelo Projeto Criança e Consumo, em sua página no Facebook. Jornalistas ligaram para a Walmart em São Paulo, mas a empresa se fechou e disse que não tinha informações, tanto que ainda não respondeu as perguntas enviadas por esse blog (clique aqui para entender o caso).
Alguns dias depois, o jornal Valor Econômico publicou uma matéria (só para assinantes) informando que as pré-adolescentes são o novo alvo da indústria da beleza. A matéria dá a entender que a empresa, ao lançar o produto, está quase fazendo um favor às crianças e suas mães: “Realmente preciso ajudar e educar minha filha em como cuidar da pele”, diz a vice-presidente de cuidados pessoais da Walmart, Carmem Bauza.
Carmem Bauza tergiversa. Ajudar crianças a cuidar da pele é uma coisa, vender maquiagem anti-envelhecimento para meninas de oito anos é outra. A Walmart não faz favores. Está de olho num mercado de US$ 2 bilhões, que será alcançado por sua rede de lojas em todo o planeta.
O poder da indústria da beleza é monstruoso. É uma das que mais cresce no mundo e uma das que mais compra espaço publicitário.
No Brasil, em dez anos o faturamento do setor de beleza passou de R$ 4,9 bilhões para R$ 21,7 bilhões.
A matéria do Valor também cita Bobbi Brown, autora do livro Beauty Rules. A autora anuncia: “Elas gostam. Não acho que seja um problema. Tornar isso um tabu é que é um problema”.
Bobbi também tergiversa a favor da indústria. É óbvio que as meninas gostam. Elas e suas mães são cada vez mais pressionadas para terminar logo com a infância e entrar no mercado. O mundo precisa de consumidoras vorazes.
A raiz do problema não é o que as crianças gostam.  A raiz do problema é a mercantilização da infância. É a transposição da última fronteira do hiperconsumo, a nova religião que trocou o “ser” pelo “ter”.
No Brasil, anualmente, são investidos mais de R$ 200 milhões de reais em publicidade de produtos infantis. Além da propaganda diretamente voltada para a criança, também existe uma outra parcela de investimentos, na qual crianças são usadas em campanhas publicitárias para adultos.
Diversos países proíbem a participação de crianças em comerciais. E a propaganda de produtos infantis acontece só depois que a criança foi dormir, pois é direcionada aos pais. É assim em países como Suécia, Grécia, Bélgica, Irlanda e Noruega.
No Brasil é uma festa. Aqui, as crianças vendem carros, apartamentos, desenham corações em areias paradisíacas para convencer papai a abrir uma conta bancária.  
Olha, mamãe, sinceramente. Não deixe o "mercado" roubar a infância da sua filha. Ela não precisa de maquiagem anti-envelhecimento.
Sugiro a leitura do portal Criança e Consumo, com muita informação interessante sobre o que acontece no mundo da publicidade para crianças. 


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2 comentários:

  1. Marques, coisa de louco. E, como a Ana Cláudia disse em comentário no outro post, o que falta são pais críticos. Minhas filhas estudam numa escola construtivista, e em escolas com proposta pedagógica alternativa, em geral os pais são mais críticos. Mesmo assim, ainda vejo muita coisa louca em termos de alimentação e consumo, por exemplo.

    A pergunta é: como estimular esse senso crítico nos pais e, consequente, nas crianças?

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  2. Silvia,
    essa é uma pergunta dificil, mas no mínimo precisa se de conhecimento. quem busca informação só na imprensa, por exemplo, com certeza tem mais tendencia de apoiar uma ação como essa do wal mart. afinal, tudo que é consumo é vendido nos jornais

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