terça-feira, 1 de março de 2011

O valor da Natureza - parte 1


Não há romantismo ou ilusão entre os profissionais que decidem o preço dos produtos vendidos nos magazines e redes de supermercados. São pessoas pautadas pela concorrência, por metas, por planilhas cada vez mais rigorosas.
A primeira coisa que um profissional dessa área precisa saber é a diferença entre fantasia e realidade.
A realidade não tem moral e não tem ética. Ela é apenas a realidade. Nós é que a esticamos de um lado para o outro. Fazemos de tudo para moldá-la ao que acreditamos ser o melhor para nós, para nosso grupo ou para o nosso ideal.
A realidade caminha. O ideal voa. Entre um e outro está tudo o que nos faz humanos e que nos diferencia dos animais, como a Cultura por exemplo.
A turma do marketing navega bem entre os dois universos, o da fantasia e o da realidade. O presidente da Nike já disse, tempos atrás, que o negócio deles não é fabricar tênis, mas vender conceitos.
O trabalho de fabricar tênis fica para os chineses e vietnamitas. Enclausurados em cubículos mal ventilados, aonde não chega nem ar puro nem direitos humanos, costuram pedaços de couro que depois ganharão o conceito, o valor mais precioso na sociedade do hiperconsumo em que vivemos.
O pessoal do marketing sabe disso. O consumidor paga uma mixaria pelo tênis e uma fortuna pelo conceito. E fica feliz por isso.
No outro extremo, na seara que batizamos de sustentabilidade, as coisas não são assim tão simples. Por enquanto, o consumidor não quer pagar pelos produtos que foram fabricados de forma sustentável, ou seja, fabricados sem agredir a natureza, por exemplo. Quem diz isso são os próprios responsáveis pela fixação de preços nas grandes lojas de varejo.
 O consumidor está disposto a pagar por beleza, virilidade, conquista, corpo delineado, poder, felicidade material, fama. Mas não topa pagar o custo da natureza. Nem um centavo a mais.
O desafio é como aproximar os dois, a cultura da sustentabilidade e a prática diária do consumidor. A autodeterminação dá a ele o direito de escolha, e ele ainda não escolheu pagar mais pelo produto sustentável.
A cultura da sustentabilidade come poeira na corrida pelos corações e mentes do consumidor. Principalmente porque não dispõe dos bilhões de dólares despejados pela indústria da publicidade, as fábricas de conceitos que agrega valor ao tênis, ao carro, a lata de cerveja.
O ativismo ambiental e a responsabilidade social empresarial (a verdadeira, não o marketing social) tentam mudar isso, ainda sem muito sucesso.
Voltarei ao assunto.

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Um comentário:

  1. domingo, 3 de abril de 2011
    COCOs e PETs
    Apanhadores de cocos se queixam da presença de atravessadores. Compram caminhão e fazem eles próprios o negócio. Acreditam estar valorizando o seu trabalho árduo.
    Pensando friamente, trepar em árvores continua um trabalho pouco valorizado que não requer capital: somente vigor e coragem. O valor final do coco é tão só o custo da viagem.

    Um coco vale apenas o custo de transportá-lo. E o catador apenas muda de profissão que requer capital e mão de obra. Os catadores continuam desvalorizados. Pergunta:
    -- O quê há de errado no processo?

    O erro está no procedimento do transporte de cocos em estado bruto. Melhor seria que transportasse a água acondicionada em containeres, tal como o suco é transportado de avião para o destino.

    Cinco Reais – para o consumidor -- é quanto vale o transporte. O que está dentro não vale nada.
    È o mesmo equívoco daquele que acredita estar pagando 4 reais pela Coca (líquido). Na verdade o consumidor paga 3 reais pelo produto tecnológico (garrafa PET) e comodidade do serviço. Um real é apenas o quanto custa o líquido refrigerante que, afinal de contas, é apenas água com açúcar.

    E depois de tomada a água, o quê faz com o coco vazio?

    Resposta:
    O mesmo que faz com a garrafa vazia: joga no lixo. Ou, mais comodamente, joga na rua como qualquer brasileiro folgado.
    Com esse procedimento, cria um problema ambiental, pelo qual acabará pagando – de uma forma ou de outra – em impostos municipais. Este é o preço da incoerência.

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