Não há romantismo ou ilusão
entre os profissionais que decidem o preço dos produtos vendidos nos magazines
e redes de supermercados. São pessoas pautadas pela concorrência, por metas,
por planilhas cada vez mais rigorosas.
A primeira coisa que um
profissional dessa área precisa saber é a diferença entre fantasia e realidade.
A realidade não tem
moral e não tem ética. Ela é apenas a realidade. Nós é que a esticamos de um
lado para o outro. Fazemos de tudo para moldá-la ao que acreditamos ser o melhor
para nós, para nosso grupo ou para o nosso ideal.
A realidade caminha. O
ideal voa. Entre um e outro está tudo o que nos faz humanos e que nos
diferencia dos animais, como a Cultura por exemplo.
A turma do marketing
navega bem entre os dois universos, o da fantasia e o da realidade. O
presidente da Nike já disse, tempos atrás, que o negócio deles não é fabricar
tênis, mas vender conceitos.
O trabalho de fabricar
tênis fica para os chineses e vietnamitas. Enclausurados em cubículos mal
ventilados, aonde não chega nem ar puro nem direitos humanos, costuram pedaços
de couro que depois ganharão o conceito, o valor mais precioso na sociedade do
hiperconsumo em que vivemos.
O pessoal do marketing
sabe disso. O consumidor paga uma mixaria pelo tênis e uma fortuna pelo
conceito. E fica feliz por isso.
No outro extremo, na
seara que batizamos de sustentabilidade, as coisas não são assim tão simples.
Por enquanto, o consumidor não quer pagar pelos produtos que foram fabricados de
forma sustentável, ou seja, fabricados sem agredir a natureza, por exemplo.
Quem diz isso são os próprios responsáveis pela fixação de preços nas grandes lojas de varejo.
O consumidor está disposto a pagar por beleza,
virilidade, conquista, corpo delineado, poder, felicidade material, fama. Mas
não topa pagar o custo da natureza. Nem um centavo a mais.
O desafio é como
aproximar os dois, a cultura da sustentabilidade e a prática diária do
consumidor. A autodeterminação dá a ele o direito de escolha, e ele ainda não
escolheu pagar mais pelo produto sustentável.
A cultura da
sustentabilidade come poeira na corrida pelos corações e mentes do consumidor.
Principalmente porque não dispõe dos bilhões de dólares despejados pela indústria
da publicidade, as fábricas de conceitos que agrega valor ao tênis, ao carro, a
lata de cerveja.
O ativismo ambiental e a responsabilidade social empresarial (a verdadeira, não o marketing social) tentam mudar isso, ainda sem muito sucesso.
Voltarei ao assunto.
© Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução não comercial, desde que o autor seja citado.
Voltarei ao assunto.
© Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução não comercial, desde que o autor seja citado.
domingo, 3 de abril de 2011
ResponderExcluirCOCOs e PETs
Apanhadores de cocos se queixam da presença de atravessadores. Compram caminhão e fazem eles próprios o negócio. Acreditam estar valorizando o seu trabalho árduo.
Pensando friamente, trepar em árvores continua um trabalho pouco valorizado que não requer capital: somente vigor e coragem. O valor final do coco é tão só o custo da viagem.
Um coco vale apenas o custo de transportá-lo. E o catador apenas muda de profissão que requer capital e mão de obra. Os catadores continuam desvalorizados. Pergunta:
-- O quê há de errado no processo?
O erro está no procedimento do transporte de cocos em estado bruto. Melhor seria que transportasse a água acondicionada em containeres, tal como o suco é transportado de avião para o destino.
Cinco Reais – para o consumidor -- é quanto vale o transporte. O que está dentro não vale nada.
È o mesmo equívoco daquele que acredita estar pagando 4 reais pela Coca (líquido). Na verdade o consumidor paga 3 reais pelo produto tecnológico (garrafa PET) e comodidade do serviço. Um real é apenas o quanto custa o líquido refrigerante que, afinal de contas, é apenas água com açúcar.
E depois de tomada a água, o quê faz com o coco vazio?
Resposta:
O mesmo que faz com a garrafa vazia: joga no lixo. Ou, mais comodamente, joga na rua como qualquer brasileiro folgado.
Com esse procedimento, cria um problema ambiental, pelo qual acabará pagando – de uma forma ou de outra – em impostos municipais. Este é o preço da incoerência.