terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O jornalismo, a filha de Nando Reis e o medo dos pobres


Matéria no caderno Ilustrada apresenta “as novas experiências de Sophia, a filha do músico Nando Reis”.
Segundo o jornal, ela “deixou o glamour dos estúdios da MTV”, onde era VJ, e foi às ruas como repórter de A Liga, da Band.
A Liga é um programa de variedades que mostra, como todo programa de variedades dos últimos 20 anos, “a realidade de uma forma nunca vista”.
Na televisão, não apenas no Brasil, a crescente espetacularização do jornalismo convém ao público mediano, que busca entretenimento sem envolvimento.  Convém também aos meios de comunicação, que não precisam gastar muito para pasteurizar a notícia.
O espetáculo convém principalmente aos anunciantes, que tem a garantia de que seus anúncios estarão recheados do mais inofensivo jornalismo de entretenimento.
Os resultados são sempre surpreendentes, nunca para melhor.
Nesse cenário, cumprindo sua nova missão no mundo televisivo, a nova repórter da Band foi pautada para entrevistar os temíveis, mal cheirosos e perigosos moradores de rua de São Paulo.
Sophia foi jogada de cabeça em um mundo onde nunca esteve e do qual não sabe muita coisa. Resultado: foi a campo como quem vai ao jardim zoológico. Voltou de sua “experiência” com a seguinte declaração: “Não senti medo. Senti foi curiosidade de entender a vida dessas pessoas”.
Poderia ter voltado com uma declaração bem parecida se a tivessem jogado na jaula dos esquilos.
Sophia não explica porque mencionou que não teve medo dos moradores de rua. Podemos apenas deduzir que ela chegou lá com a impressão de que as pessoas que não tem casa e moram na rua são perigosas.
Cercada de produtores, assistentes, stylists e maquiadores, Sophia aventurou-se pelas ruas de São Paulo e sobreviveu a uma entrevista com moradores de rua.  Voltou com a matéria certa para ocupar o espaço entre dois anúncios, esses sim, os assuntos que realmente precisam ser levados a sério.
Jornalismo sobre moradores de rua pode ser encontrado no livro Cama de Cimento, de Tomás Chiaverini, que passou dois anos pesquisando o assunto.


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